Além de colocar Cid contra a parede por grande parte de seu turno de questionamentos, Magno frisou que o tenente-coronel não era somente um ajudante de ordens
Depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos tomou um rumo polêmico. O Deputado Gabriel Magno (PT), membro da comissão, fez duras críticas ao depoente e afirmou que ele "envergonha o Exército e as Forças Armadas"
O depoimento do tenente-coronel Mauro Cid foi marcado pelo silêncio devido à recusa em responder quaisquer perguntas dos parlamentares, que demonstraram enorme frustração com a atitude. O clima na CPI ficou mais pesado quando o deputado Gabriel Magno assumiu a palavra.
Cid seguiu em silêncio, mas Magno fez críticas contundentes, afirmando que as ações do militar não eram somente de um ajudante. "O senhor sabia e compactuava com esse plano. É muito grave o que aconteceu. Num grupo (de WhatsApp) consigo mesmo, o senhor tinha a receita do bolo (um roteiro da tentativa de golpe). Foram encontradas mensagens com outros membros das forças armadas que pediam que convencesse (o presidente) a dar o golpe. Não cola a tentativa de dizer que era uma função protocolar", afirmou.
Em vista disso, o deputado apontou que Cid não era somente um ajudante, mas peça fundamental numa tentativa de golpe. "O senhor diz que era apenas um militar que cumpria ordens. Ninguém é obrigado a cumprir ordens ilegais. Sabia disso ou cumpriu sabendo que as ordens eram ilegais? Era o homem de confiança da família (Bolsonaro)", afirmou.
Mesmo em meio às declarações, Cid manteve-se sereno e não ofereceu resposta imediata às palavras de Magno. No entanto, a tensão no ambiente era visível.
Histórico de golpes
Magno também fez questão de comparar a tentativa de golpe de 8 de janeiro com o Golpe Militar de 1964. "Há dívidas que até hoje o povo precisa pagar. Teve colegas do senhor que tentaram menosprezar isso. A tentativa é muito grave e quem pagou foi o povo brasileiro", apontou.
O parlamentar também chamou atenção para a gravidade de uma tentativa de golpe de estado nesse panorama. "O senhor tem 44 anos. Não viveu o horror do último golpe. Tá na memória do povo. Foi isso que uma parte dos militares tentou fazer de novo", frisou.
Por fim, o deputado afirmou que Cid envergonha as Forças Armadas. "Um ex-governo infelizmente corrompeu parte do comando. Envergonha essa instituição, saber que teve coronel que estava por trás (da articulação do golpe)", concluiu.
Mauro Cid segue prestando esclarecimentos à CPI dos Atos Antidemocráticos. Ele já depôs à CPMI do Congresso Nacional, onde também permaneceu calado.
O tenente-coronel é investigado pela Polícia Federal (PF) em escândalos como o das joias sauditas, falsificação dos cartões de vacinação e o plano golpista para anular o resultado das eleições de 2022. Cid está preso desde 3 de maio, no Batalhão de Polícia do Exército, em Brasília.
*Estagiário sob a supervisão de Nahima Maciel
Reportagem de Carlos Silva
AUTOR: CARLOS SILVA
DATA: 24/08/2023
VEICULO: CORREIO BRAZILIENSE